5 de setembro de 2010

A ditadura militar e Milton Santos

Em decorrência de pesquisas feitas no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, entrevista com o Historiador Cid Teixeira, artigos de jornais do país entre outras fontes de pesquisa, esse trabalho apresenta algumas informações - obtidas até então - sobre a trajetória do Professor Milton Santos antes, durante e após o golpe da ditadura militar no ano de 1964 no Brasil.

Instalado no país desde seu retorno da França, em 1958, após concluir o doutorado na Universidade de Estrasburgo, Milton Santos já havia criado o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Bahia; passado pelo Jornal A Tarde e pela Empresa Gráfica da Bahia, além de ter escrito alguns livros, quando teve sua prisão decretada pelo então coronel Humberto Melo, responsável pelo 19º BC na época, localizado até hoje no bairro do Cabula.

Entretanto, a arbitrária prisão de Milton Santos na madrugada do dia 31 de Março para 1º de Abril de 1964, teve uma “explicação” devido a sua vida política e de militante estudantil e de interesse da população. A começar por sua intensa e significativa participação na candidatura da Bahia para concorrer à presidência da UNE, em 1946, com o candidato Methódio Coelho (ainda que o nome mais cogitado fosse o do próprio Milton Santos), segundo Geraldo Milton da Silveira. Também teve significativa participação na gestão da diretoria do comitê de Eduardo Gomes, candidato da UDN para presidência contra Eurico Gaspar Dutra – apesar de não ser filiado ao partido.

Com o passar dos anos, o professor Milton jamais deixou de militar em prol de uma melhoria para o país, através de seus livros e estudos, além de suas pesquisas no Laboratório de Geomorfologia; nunca foi filiado a partido político, mas tinha amizades com pessoas da esquerda, inclusive seu irmão Nailton que era militante do PC do B na época. O fato de no ano de 1961 o então presidente Jânio Quadros ter-lhe nomeado como seu representante na Bahia, estreitou-se os laços com a vida política do país. Apesar de ter perdido seu cargo com a renúncia de Jânio, continuou representando o governo brasileiro durante a presidência de João Goulart, que fora sucessor do presidente que havia renunciado, e para os de extrema direita, a nova presidência representava uma ameaça de um possível socialismo no país; sendo assim, João Goulart é deposto e instaura-se uma ditadura militar.

Todavia, por ser amigo de personagens da política e o seu envolvimento com pessoas da esquerda, fez com que ele passasse a ser uma ameaça para o governo ditatorial. No entanto, segundo Cid Teixeira, ele foi preso por que os militares precisavam achar culpados. Diante das palavras da professora Mª Auxiliadora da Silva, para um texto disponível na internet, sabendo que Milton corria perigo, o cônsul honorário da França na época, professor Van der Haegen, teria convidado o mesmo para abrigar-se em sua residência, mas de nada adiantou. Com isso, Milton Santos foi preso por um ex-capitão do Exército por nome de Victor Hugo, reformado por “insanidade mental”, encarregado de “missões especiais” na Bahia, no 10º andar do edifício Napoli, bem em frente ao Farol da Barra. Ainda segundo Sebastião Nery, ele encontrou Milton na prisão, sereno, sorridente e sábio.

Apesar das informações serem desencontradas, sabe-se que o professor passou pelos quartéis de Salvador até ser exilado. O 19º BC e o Forte do Barbalho foram destinos confirmados por amigos de Milton, como o professor Cid Teixeira que o visitou algumas vezes no Forte do Barbalho que era quartel do exército na época; e o 19º BC, onde o professor Geraldo Milton da Silveira tentou vê-lo, mas foi impedido.
Quanto à “soltura” do professor em virtude de ser levado ao exílio, há contradições. Na maioria das informações recolhidas sobre o fato, Milton Santos teria sido solto por complicações em sua saúde, mas, segundo Sebastião Nery, na noite de véspera de São João, Milton passou mal sim, mas foi liberado por causa de apelos de professores – inclusive o próprio Van der Haegen, que serviu de intermediário entre o governo francês e o coronel Humberto Melo nas negociações, segundo a professora Mª Auxiliadora - e intelectuais franceses, colegas de Estrasburgo, ao historiador francês Fernand Braudel que tinha forte influência na embaixada francesa.

Contudo, após sua libertação da prisão e sua passagem pelo hospital, o professor Milton Santos ficou exilado durante 13 anos, onde passou por diversos países estudando cada cultura e lecionando em universidades renomadas e conhecidas por todo o mundo, mas encontrou seu “lar” na França, casando-se novamente com dona Marie Hélene.






Referência Bibliográfica

Correio Braziliense. Página 4 Brasília-DF, 1º deJulho de 2001. Histórias de Sebastião Nery.

SILVA, M. A. ; DIAS, Clímaco ; TOLEDO JUNIOR, Rubens de . Apresentação. In: Maria Auxiliadora da Silva; Clímaco Dias; Rubens de Toledo Junior. (Org.). Encontro com o Pensamento de Milton Santos. 1 ed. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 2005.

Revista Caros Amigos. Coleção Caros Amigos. Grandes Cientistas Brasileiros. Fascículo 3. Editora Casa Amarela – São Paulo. Pgs 67-80.

Entrevista cedida pelo professor e historiador Cid Teixeira no dia 26 de Abril de 2010.

Disponível em: http://devel.fpabramo.org.br/conteudo/biografia-do-milton-santos. Acesso em 05 de Julho de 2010.




* Texto elaborado por Jordana Feitosa de Oliveira. Graduanda do curso de Comunicação Social - com habilitação em Produção da Comunicação e Cultura - pela Universidade Federal da Bahia e Integrante do Grupo de Pesquisa Permanecer Milton Santos.

3 comentários:

  1. Eu Claudiomar, formei o ensino médio em 2008. Sou quilombola do Buriti do Meio, atulmente trabalho na área da informática, e meu amigo professor Fernando Conceição e a Dr Professora Maria Auxiliadora da Silva ambos da UFBA, são quilombolas, quero meus queridos professores que eu não conheço, venha nos visitar aqui no Quilombo Buriti do Meio município de São Francisco MG. Somos uma comunidade em 150 familias em torno de 750 pessoas que queremos fazer parte da história da obra do Cientista professor (geógrafo)Milton Santos.

    Contatos: (38)9977-5669
    e-mail: claudim.inclusaodigital@gmail.com

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  2. Assembléia Geral da ONU declara 2011 o Ano dos Afrodescendentes

    A Assembléia Geral das Nações Unidas em sua 64ª sessão aprovou declarar o ano 2011, “Ano Internacional dos Afrodescendentes” com o objetivo de fortalecer as medidas nacionais e a cooperação regional e internacional em benefício dos afrodescendentes em relação ao gozo pleno de seus direitos econômicos, culturais, sociais, civis e políticos, sua participação e inclusão em todas as esferas da sociedade e a promoção de um maior respeito e conhecimento da diversidade, sua herança e sua cultura.

    A Assembléia Geral encomendou ao Secretário Geral que apresente um relatório que inclua um projeto de programa de atividades para o Ano Internacional dos Afrodescendentes tendo em consideração as opiniões e recomendações dos Estados Membros, do Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, do Grupo de trabalho de Especialistas sobre os Afrodescendentes do Conselho de Direitos Humanos, entre outros.
    Resolução aprovada pela Assembleia Geral
    [sobre a base do relatório da Terceira Comissão (A/64/439/Add.2 (Part. II))] 64/169. Ano Internacional dos Afrodescendentes

    http://www.institutocooperforte.org.br/portal/noticias

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  3. Reafirmando a Declaração Universal dos Direitos Humanos1, onde se proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que toda pessoa tem todos os direitos e liberdades enunciados nela, sem distinção alguma.


    Relembrando o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos2, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais2, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial3, a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher4, a Convenção sobre os Direitos da Criança5, a Convenção Internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migratórios e de seus familiares6, a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência 7 e outros instrumentos internacionais pertinentes aos direitos humanos.


    Relembrando também as disposições pertinentes contidas nos documentos finais de todas as grandes conferências e cúpulas das Nações Unidas, em particular a Declaração e o Programa de Ação de Viena8 e a Declaração e o Programa de Ação de Durban9,
    Relembrando também suas resoluções 62/122, de 17 de dezembro de 2007, 63/5, de 20 de outubro de 2008, e 64/15, de 16 de novembro de 2009, relativas ao monumento permanente e lembrança das vítimas da escravidão e da venda transatlântica de escravos.


    1. Proclama o ano que começa em 1 de janeiro de 2011 o Ano Internacional dos Afrodescendentes, com intenção de fortalecer as medidas nacionais e a cooperação regional e internacional em benefício dos afrodescendentes em relação ao gozo pleno de seus direitos econômicos, culturais, sociais, civis e políticos, sua participação e integração em todos os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais da sociedade, e a promoção de um maior conhecimento e respeito à diversidade de sua herança e sua cultura;


    2. Incentiva os Estados Membros, os organismos especializados do sistema das Nações Unidas, no âmbito de seus mandados respectivos e com os recursos existentes, e à sociedade civil para que preparem e definam iniciativas que possam contribuir para o êxito do Ano;
    3. Solicita ao Secretário Geral que em seu sexagésimo quinto período de sessões apresente um relatório que inclua um projeto de programa de atividades para o Ano Internacional, tendo em consideração as opiniões e recomendações dos Estados Membros, da Alta Comissionada das Nações Unidas para os Direitos Humanos, do Comitê para a Eliminação da discriminação Racial, do Grupo de Trabalho de Especialistas sobre os Afrodescendentes do Conselho de Direitos Humanos e outros organismos, fundos e programas pertinentes das Nações Unidas, segundo corresponda.


    65ª sessão plenária
    18 de dezembro de 2009
    O FONAPER se alegra por mais esta iniciativa das Nações Unidas em promover a construção da paz, através do reconhecimento de direitos daqueles que são e foram injustiçados, oprimidos ou que sofrem ainda hoje, tantas violações.
    Fica a certeza de que esta iniciativa colaborará em muito com o Ensino Religioso, no processo de reconhecimento e respeito às religiosidades de Matriz Africana.


    Fonte: CRDHDR

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